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Ser super mãe é uma treta

Ser super mãe é uma treta

30
Mai17

Notas breves

Susana

Há quem diga que quem escolhe não ter filhos é egoísta, mas para mim, quem escolhe ter filhos é que é profundamente egoísta. Escolhe ter filhos por aquilo que os filhos lhes dão, pelo que lhes acrescenta à vida, pelo sentido que dá a tudo isto que tem tão pouco sentido.

 

O meu filho acabou de fazer dois anos e a minha filha já tem quatro. O tempo foge e eu não tenho a certeza de ter dado conta de tudo o que vivi nestes quatro anos de maternidade.

 

Tanta coisa aconteceu nas nossas vidas nestes anos. Nunca me senti tão cansada, nem nunca tive tanto sono. Nunca me senti tão feliz. Tem sido uma maravilhosa e cansativa viagem, mas a minha vida não faz sentido de outra forma e não consigo dizer menos de que sou abençoada por a vida me ter dado dois filhos maravilhosos.

29
Mai17

As coisas que eu mais detesto fazer, (mas faço quando não tenho como fugir)

Susana

- Cortas unhas:

A minha filha regra geral fica quieta, basta que eu prometa que depois lhe pinto as unhas, (as das mãos e as dos pés, menos que isso dá choro), mas ao meu filho, para lhe conseguir cortar as unhas, tenho que lhe aplicar várias técnicas de imobilização de várias artes marciais. Tenho pena que o esforço não queime calorias extra.

 

- Aspirar macacos do nariz:

Mais uma coisa que o meu filho também detesta, o que até me faz sentir melhor. A mim mete-me um nojo desgraçado e ele grita tanto, que chego a ter medo que a CPCJ nos bata à porta, enquanto lhe aspiro os macacos do nariz.

 

- Adormecer os meus filhos:

É a minha maior inabilidade. A minha filha desde sempre que comigo estica a corda até rebentar, a corda e eu. Até há pouco tempo era um desespero por causa das birras, felizmente essa fase já passou, (uma mãe nunca deve dizer que uma fase já passou, mas eu gosto de viver no risco), mas agora o raio da miúda só quer conversar pela noite dentro. Eu adormeço na cama dela e ela ainda a contar-me o que se passou na escola. Já o meu filho detesta dormir e tem raiva a quem gosta, o pior não é adormecê-lo, é conseguir que ele durma uma noite inteira.

 

- Ouvir Os Caricas:

D-E-T-E-S-T-O aquelas vozes palermas de adultos a fingir que são crianças. Acho que não é preciso dizer mais nada.

 

- Obrigá-los a comer:

Ao meu filho, basta ver aquela pança, para se perceber que comer é a cena dele, no máximo obrigo-o a não comer tanto, mas a minha filha, pisca como não há outra, quando mete na cabeça que não come, não come mesmo. Não há nada que eu diga ou faça, para que ela pegue no garfo e coma. Rebenta-me com os nervos.

 

- Mudar fraldas:

Como é possível os bebés fazerem tanto cocó por dia? E cheira tão mal porquê? Com tanta coisa que o Homem inventa e ainda não inventaram um xarope para o cocó cheirar a rosas porquê?

 

- Pentear o cabelo da minha filha:

São demasiados ais para o meu humor matinal. O problema sou eu, claro. Uma mulher sabe que pentear o cabelo custa um bocadinho, mas como sabemos isso e aguentamos, temos menos paciência para os queixumes. Com o pai é penteada com mil cuidados, devagar, devagarinho e mal se ouve um ai. Eles entendem-se e chamam-me quando é preciso fazer um totó ou meter um gancho.

 

- Ir à casa-de-banho/tomar banho com espetadores:

Os miúdos não têm qualquer noção de privacidade. Com o tempo uma pessoa habitua-se e o que tem que ser tem muita força, mas que tenho saudades de não ter uma voz a dizer “Estás a fazer cocó, mãe?” ou a dizer “Sabes que temos de lavar bem o pipi, não sabes?”, lá isso tenho.

 

- Limpar restos de bolacha Maria:

Não sei como é em vossa casa, mas os meus filhos adoram bolachas Maria e eu encontro restos mortais das ditas por toda a casa. Nos vidros das janelas, no móvel da televisão, na televisão, esborrachadas no chão, dentro das caixas dos brinquedos, no meio dos livros, até já os encontrei dentro dos meus sapatos quando os ia calçar.

 

- Brincar:

Não me lixem, brincar é muito divertido para as crianças, para os adultos é uma seca. Admitam! Eu não tenho a mínima paciência para estar sentada a brincar com bonecos ou loiças, a fazer corridas de carros ou torres com blocos, já tive quando fui criança, mas isso foi há cem anos. Não me julguem assim tão rápido, também não sou uma mãe sem coração, não me importo de ler livros, fazer puzzles, pintar, jogar à bola ou às escondidas, ver filmes, isso sim é do caraças, os dois quietos no sofá a ver filmes atrás de filmes. Afinal, se calhar até sou uma mãe cruel e sem coração.

24
Mai17

Desculpa filho, não foste planeado

Susana

Já estava doente há duas semanas. Todos os dias tinha diarreia. Hipocondríaca como sou, sabia que estava à beira da morte, só era preciso descobrir qual a doença que me iria matar. Farta de estar à espera, numa segunda-feira de manhã, depois de chegar ao trabalho e de me sentir cada vez mais fraca, fui às urgências do Hospital da Luz. 

 

Fui atendida por uma médica que, entre várias perguntas, quis saber se eu poderia estar grávida. Respondi logo que não, acho até que gritei. Nem pensar, eu tomava a pílula. Notei-lhe um ligeiro ar de gozo. Imagino que já tivesse ouvido a mesma resposta centenas de vezes. Fiquei irritadíssima, não sou uma adolescente, caraças, eu sei o que é o planeamento familiar, tomo a pílula desde que me conheço mulher.

 

A minha indignação não durou as três horas que esperei pelos resultados das análises que a médica me tinha mandado fazer. Quando me recebeu no gabinete com um sorriso de orelha a orelha, já eu tinha esquecido a pergunta que me tinha feito. Mas ela não. Como não tinha ficado convencida da minha certeza absoluta e como poderia ser preciso fazer mais exames, entre as várias análises que pediu, estava um teste de gravidez.

 

- Parabéns, está grávida!

 

Raio da médica, eu estive três horas na sala de espera a ler revistas cor de rosa e ela esteve três horas nos copos.

 

Eu tomava a pílula, que parte é que ela não percebeu? Ela insistiu que o resultado era aquele e eu insisti que não podia ser. Farta de mim, ligou para a obstetrícia para confirmar se o que ela estava a ver era mesmo o que ela estava a ver, disseram-lhe que sim, ela deu-me as análises e, novamente com aquele ar de gozo, mandou-me ir à obstetrícia que já estavam à minha espera.

 

Enquanto eu pensava se devia ir ou fugir daquele manicómio, uma assistente segurou-me o braço e, com um sorriso típico dos hospitais privados, levou-me à obstetrícia.

 

Lá se tinha ido a minha hipótese de fuga.

 

Na obstetrícia, para não restarem dúvidas, fizeram-me uma ecografia e lá estava a confirmação: um saquinho bem redondinho dentro do meu útero. A minha cara de felicidade devia ser tão evidente que a médica me disse para ter calma, que ainda estava no início e que a decisão de continuar com a gravidez seria minha.

 

Eu estava calmíssima, ou pelo menos fingi bem o suficiente para me deixarem sair do hospital rapidamente.

 

A primeira coisa que fiz foi ligar para o meu marido. Pouco tempo antes tínhamos falado sobre ter mais filhos e ambos concluímos que dificilmente isso iria acontecer. Gostávamos de dar mais um irmão à nossa filha, (ela já tinha o mano mais velho, o meu enteado), mas ter filhos é caro, a mensalidade da creche, as fraldas, as vacinas, o pediatra, a renda da casa, a pensão de alimentos, bla, bla, bla, bla. Tomem lá e embrulhem.

 

O meu estado de espirito era o de quem estava a comunicar uma fatalidade, um olha não sei como é que esta merda aconteceu, desculpa lá qualquer coisinha e o meu marido do outro lado a rir, genuinamente feliz, que venha com saúde, disse ele. Também esteve a beber com a médica, só pode. Então e as contas? Nós fizemos contas, como é que vamos conseguir?

 

Quando desligámos, liguei para a minha mãe e chorei, chorei, chorei, chorei tanto. Só pensava na minha filha. Era tão pequenina, ainda era tão bebé. O que é que eu lhe fui fazer? E a minha mãe ria, genuinamente feliz e eu só me lembro de andar dentro do Colombo às voltas a chorar e a dizer-lhe para não estar feliz.

 

Nesse dia senti-me atropelada pela vida. Não era nada disto que eu tinha planeado, mas desde esse dia, em que a vida mandou as minhas certezas absolutas para as urtigas e escolheu outro caminho, que eu sou ainda mais feliz.

23
Mai17

O SNS não é para pessoas

Susana

20170522_104140.jpg

 

A minha filha está chateada com os médicos.

 

Está doente há mais de uma semana, hoje foi pela quarta vez às urgências e só hoje a diagnosticaram corretamente.

 

Na primeira vez que foi à urgência e como para tudo o que os médicos não fazem ideia do que é, disseram-lhe que tinha uma virose e receitaram brufen.

 

A meio da semana tinha os gânglios do pescoço do tamanho de bolas de ténis, a mãe voou com ela para a urgência do hospital e disseram-lhe que tinha uns pontinhos brancos na garganta e que era melhor levar uma injeção de penicilina para ficar boa de vez.

 

Ela ficou danada com a mãe por ter deixado que lhe fizessem isso.

 

Na sexta-feira não havia melhoras, comer era uma carga de trabalhos, tinha muitas dores e cansaço e lá fomos a mais uma urgência. Desta vez a garganta estava toda branca, as amígdalas gigantes e disseram-lhe que o melhor era fazer um antibiótico de três dias para ficar boa de vez.

 

Não ficou.

 

Esta madrugada veio a febre e depois de passar o dia entre as urgências do centro de saúde e as urgências do hospital, depois da mãe se ter chateado com enfermeiras e médicas, depois de lhe terem feito análises ao sangue, teve o diagnóstico que devia ter sido feito há cinco dias, se em vez de injecções lhe tivessem feito o raio de umas análises.

 

Agora é ter paciência, para agora sim, ficar boa de vez.

22
Mai17

Bela, recatada e do lar

Susana

De cada vez que alguém me pergunta se o meu marido me ajuda, apetece-me desatar aos pontapés. O meu marido não ajuda, o meu marido faz.

 

O que me enerva não é apenas a pergunta, mas também que a pergunta seja sempre feita por mulheres, como se o tempo em que o homem chegava a casa e se sentava à frente da televisão à espera que o jantar estivesse na mesa não tivesse acabado. E se ainda não acabou para algumas, peço desculpa, mas são umas valentes parvas.

 

Duvido que os meus avôs tenham feito mais que sair de casa de manhã para trabalhar, que alguma vez tenham mudado as fraldas aos filhos, que lhes tenham dado banho ou que tenham esfregado roupa no tanque. As minhas avós eram donas de casa e, como a maioria das mulheres, tinham o dona de casa colado ao corpo, mas não mandavam nada. Era preciso trazer dinheiro para casa e esse era o papel que a sociedade entregava aos homens.

 

O mundo, entretanto, deu muitas voltas. Não é perfeito, é verdade, ainda não é fácil conjugar a maternidade com o trabalho, mas já não somos, em maioria, donas de casa. As mulheres estudam, trabalham e ganham dinheiro - menos que os homens, não se esqueçam. E, mesmo assim, continuamos a trabalhar mais que os homens em casa e a gastar mais horas a cuidar dos filhos e em tarefas domésticas. E porquê? Expliquem-me como se eu fosse muito burra. Acordamos de madrugada, passamos o dia a trabalhar fora de casa, chegamos exaustas e vestimos a farda de donas de casa porquê? Se dentro da nossa casa, na nossa família, não estivermos em pé de igualdade com os homens, onde e quando vamos estar?

 

Atenção que isto não é um manifesto feminista. A culpa não é só dos homens preguiçosos, é também das mulheres que arranjam desculpas e não deixam os homens participar nas tarefas domésticas, como se eles não tivessem duas mãos capazes de ligar um aspirador na tomada e andar com ele pela casa. A sério, acham que é preciso um curso superior para aspirar migalhas?

 

- “O meu marido não se ajeita a dar banho aos miúdos.” Paciência, eles tomam banho todos os dias, não podem estar assim tão sujos.

 

- “Quando sou eu a lavar, a casa de banho fica bem lavada.” Fechem os olhos, daqui a uns dias é preciso lavar outra vez.

 

- “A culpa não é dele, a mãe nunca o ensinou a cozinhar.” O que não falta no Youtube e na Internet são receitas. Se tudo falhar, há sempre uma churrasqueira em cada esquina.

 

- “É melhor ser eu a vestir os miúdos, para eles irem para a escola com roupa que combine.” A minha filha tinha poucos meses, eu deixei a roupa arranjada para o pai ir com ela às vacinas e ele vestiu-lhe o casaco por baixo do vestido. Estava linda e sobreviveu ao trauma.

 

- “O meu marido não sabe qual é o programa da máquina de lavar.” Saber qual é o programa para lavar a roupa está no vosso currículo logo por baixo da aptidão para trabalhar em equipa, certo?

 

As desculpas podem ser muitas, mas se tivermos vontade, encontramos resposta para todas. Deixem os homens limpar o pó, mesmo que eles não limpem atrás dos livros, ensinem os vossos filhos a passar a ferro, um dia eles podem precisar de uma camisa passada, e ensinem as vossas filhas a exigir igualdade, só assim elas vão deixar de ouvir perguntas idiotas que dão vontade de desatar aos pontapés.

19
Mai17

Rinoceronte

Susana

Este texto foi escrito quase há um ano e continua a fazer todo o sentido. Têm sido dois anos extremamente esgotantes, com muitas mudanças, limitações fisicas e tortura do sono constante. Não é desculpa, o rinoceronte ainda que tenha perdido algum peso, continua gordo. Hoje não é o dia um, esse já foi, mas é o dia de voltar a estar focada. Por mim.

 

Hoje olhei-me ao espelho e vi um rinoceronte. Ou dois, não tenho bem a certeza porque estava sem óculos.

 

Para dizer a verdade já o andava a ver há muito tempo, mas fui usando todas as desculpas que me lembrava para o ignorar. A tiroide, o cansaço, as mudanças no emprego, começo amanhã, começo depois, a gravidez. Durante quanto tempo podemos usar a desculpa da gravidez para estarmos gordas? Acho que essa já não resulta, a minha filha mais velha tem 3 anos e o meu filho mais novo já fez 1 ano e se quero continuar a dizer a verdade tenho de admitir que já ando à luta com o peso há 12 anos.

 

Até aos 24 tive um peso normal, cabia confortavelmente numas calças tamanho 38, tinha cintura e uma barriga que permitia um biquíni. Apesar de comer como um rinoceronte - comer é bom, não me lixem - fazia desporto e uma coisa compensava a outra.

 

O primeiro aumento de peso significativo aconteceu quando fiquei desempregada. Um ano em casa de rabo alapado no sofá a comer bolachas e baldes de gelado, com horários trocados e muita pena de mim. Quando dei por isso tinha engordado uns redondos 30 quilos.

 

Juro!

 

Foi o primeiro encontro com o rinoceronte. Quando me vi numa fotografia não me reconheci, quem raio era aquela gorda? Não queria voltar a olhar para ela. Levantei o rabo do sofá, fiz a dieta mais restritiva e carregada de drenantes que encontrei e perdi em pouco tempo mais de metade do peso que tinha em excesso.

 

Nos anos seguintes continuei com peso a mais. Ele ia oscilando consoante o humor, a força de vontade e era agravado pela genética - essa filha da mãe que a uns permite comer tudo sem engordar e a outros transforma-os em rinocerontes - mas só quando pensei em engravidar é que voltei a sério ao assunto. Não queria engravidar com peso a mais. Pode parecer idiota emagrecer para engordar logo de seguida, mas foi isso mesmo que fiz. Segui uma dieta aconselhada por uma nutricionista, comecei primeiro a fazer caminhadas e com o incentivo e companhia do meu marido deixei-me de mariquices e comecei a correr.

 

Ao fim de alguns meses voltei a enfiar-me numas calças tamanho 38, corríamos 1 hora, subia escadas sem me cansar, gostava de me ver ao espelho, tinha mudado os meus hábitos alimentares, sentia-me saudável e estava saudável. Estava orgulhosa.

 

Depois engravidei, engordei 16 quilos, pari e continuei a engordar, dois anos depois voltei a engravidar, engordei 6 quilos, pari e continuei a engordar.

 

Os filhos trouxeram-me quilos de felicidade, quilos de sono, quilos de preocupações, quilos de amor e também me trouxeram falta de tempo para me colocar em primeiro lugar de vez em quando. Se não conseguir correr com eles no parque, se não conseguir sentar-me no chão para brincar e depois levantar-me sem parecer a minha avó, se não conseguir subir até ao 3º andar sem dizer deusmajude 30 vezes, não estou a ser boa para mim, nem a dar-lhes um bom exemplo.

 

A sociedade espera mulheres magras, maquilhadas, de saltos altos, bem sucedidas no emprego, boas donas de casa e mães perfeitas. A sociedade que vá à merda. Só temos de estar à altura das nossas expectativas. Perder peso é uma questão de saúde, física e mental. De autoestima e de controlo. E só diz respeito a cada um e deve ser feito ao ritmo de cada um.

 

Existem milhares de dietas, bloggers, instagramers, runners, personal trainers, dietas de princesas, dietas paleo e o diabo a quatro, que fazem parecer tudo fácil e idílico, com fotografias carregadas de filtros e expectativas irreais. Não é para mim.

 

Digo-vos o que resulta comigo:

 

- Não esperar milagres, esses nem em Fátima, perder peso custa muito, manter o peso no desejado custa ainda mais;

- Bebo pelo menos 1,50lt de água por dia;

- Desisti dos sumos à refeição, mas bebo coca cola zero, um copo de vinho tinto ou uma cerveja sempre que me apetece, se a dieta é uma coisa para sempre, eu vou querer prevaricar de vez em quando;

- Pão só ao pequeno almoço, não prescindo da minha chávena de café e do meu pão com queijo enquanto vemos as notícias da manhã;

- Comer alguma coisa que adoro uma vez por semana. Para mim um gelado cura todos os males, mas vocês é que escolhem;

- Arroz, massas, batatas, não mais que uma ou duas colheres de sopa;

- A carne ou o peixe não deve ser maior que a palma da nossa mão;

- O prato a transbordar de vegetais;

- Variar os vegetais para não enjoar: alface, pepino, tomate, beterraba ralada com cenoura, brócolos, feijão verde, cogumelos salteados, vale tudo;

- Palitos de cenoura para quando dá vontade de comer mesmo antes do almoço;

- Levar três ou quatro bolachas para o trabalho em vez do pacote inteiro;

- Fruta, muita fruta e variada. Sei que a fruta também engorda, mas prefiro a frutose de um pêssego ou de uma banana do que o açúcar de um croissant com chocolate;

- Evito fritos, prefiro grelhados, assados, cozidos, carnes brancas e peixe, vocês já sabem isto tudo;

- Não estar muitas horas sem comer;

- E mexer-me. Caminhar, correr quando for possível, subir e descer escadas, tirar o pó da elíptica e dar-lhe uso, o que conseguir.

 

Todas sabemos a teoria e não estou a falar das stressadas que querem perder três quilos, nessas magricelas apetece-me bater-lhes. Falo de quem luta realmente com o peso, de quem é obeso e precisa de recuperar a sua saúde.

 

Hoje é o meu dia um, o dia em que escolho deixar de ver o rinoceronte no espelho. Por mim.

 

Texto publicado originalmente no blog Amãezónia.

16
Mai17

Rotinas no casamento? Quero-as todas, por favor.

Susana

Este fim-de-semana estive sozinha com os miúdos e aproveito para recordar o texto que escrevi em Janeiro, quando o meu marido esteve quinze dias na Índia e eu julguei que enlouquecia.

 

Há quem tenha medo das rotinas, mas o casamento também é feito de rotinas, de pequenos gestos que colam os dias.

 

Estou sozinha com os miúdos há treze dias, faltam dois dias para o meu marido regressar a casa e eu estou quase a cortar os pulsos.

 

Sinto falta de quem mete o café a fazer de manhã enquanto eu tomo banho, sinto falta de quem se senta comigo no sofá a ver as noticias enquanto tomamos o pequeno-almoço, sinto falta dos braços que carregam o mais novo escada abaixo, sinto falta de quem me leva e vai buscar aos barcos todos os dias, sinto falta das mensagens a perguntar se é preciso fazer compras, sinto falta de quem me faz o jantar, sinto falta de quem adormece a mais velha quando eu estou demasiado cansada para birras de sono, sinto falta de quem conversa comigo sobre futebol, politica, livros ou apenas sobre a estupidez dos outros, sinto falta de quem adormece comigo no sofá.

 

Estes dias tenha sido só eu. Os meus braços a carregar mochilas e miúdos escadas abaixo, a levá-los à escola, a fazer compras, a ir buscá-los a correr ao final do dia, a fazer o jantar e a dar banhos a dobrar, tenho sido só eu a contar histórias, a adormecer, a aturar birras de sono e saudades do pai, tudo em esforço, sempre.

 

O amor não são só as rotinas, dizem vocês. Pois não, o amor são também as surpresas, as escapadinhas de fim-de-semana, as idas ao cinema seguidas de uma noite num motel de beira da estrada, são os concertos e os jantares a dois, são as alegrias das conquistas que partilhamos, mas o amor na sua parte mais prática é feito de rotinas, nada sobrevive só de fogo de artificio.

 

E eu sinto falta da nossa cola, das rotinas do nosso casamento.

 

Como dizia a minha filha um destes dias:

- Precisamos do pai em casa para ele me vestir o casaco, enquanto tu vestes o casaco ao mano, para ele me meter a fazer chihi, enquanto tu dás a sopa ao mano. Um faz uma coisa e outro a outra. É assim não é mamã?

 

Texto publicado originalmente no blog Amãezónia.

11
Mai17

Notas breves

Susana

Li isto em qualquer lado e se li na internet só pode ser verdade: os pais fazem parte de uma experiência científica secreta, sobre os efeitos da privação do sono no ser humano.

 

Eu já dei todos os meus neurónios para essa experiência, deixem-me sair por favor.

10
Mai17

As dez coisas que eu mais detesto que os meus filhos façam:

Susana

1)      Birras;

2)      Birras;

3)      Birras;

4)      Birras;

5)      Birras;

6)      Birras;

7)      Birras;

8)      Birras;

9)      Birras;

10)    Birras.

 

A minha filha mais velha sempre foi especialista em birras. Desde as birras que com um mês fazia para mamar e para adormecer, às birras que faz com quatro anos porque não vê o arco-íris há muito tempo ou porque não quer ir para a escola porque está chateada com as amigas. Acorda todos os dias de mau humor (herdou os meus genes) e qualquer rabanada de vento a faz desatar num berreiro com cascatas a escorrer-lhe dos olhos. Passou em força por todas as fases ditas terrible: terrible one, two, three e está no auge dos fucking four. Que vos digo já que dão quinze a zero aos terrible two. A parte boa é que não há birra que me surpreenda, tudo é motivo e a qualquer momento.

 

O que me tem lixado verdadeiramente por estes dias é que o meu filho, que de terrível só tinha o não nos deixar dormir há quase dois anos (coisa pouca), está a entrar a pés juntos nos terrible two. Um miúdo que mesmo não dormindo acorda sempre bem-disposto, que leva o dia a cantar e que tem um sorriso que ilumina o dia mais cinzento que já possam ter visto, tem ensaiado umas birras que me deixam louca. Se por um lado as birras dos quatro anos são monstruosas, cheias de porquês e eu quero porque quero e pés a bater no chão, por outro as birras dos dois anos têm muitas lágrimas, muita baba, muito ranho e poucas palavras e eu já me tinha esquecido como era isto tentar adivinhar qual é o raio do motivo da birra.

09
Mai17

Notas breves

Susana

Muitos anos antes de se falar da Baleia Azul, já o filho da senhora que nos vendia croissants no quiosque à porta da escola secundária, se tinha suicidado com 605 Forte. Lembro-me sempre dele, jovem, bonito e que nos deixou a todos em choque. Quem se mutila, quem se tenta suicidar, quem recebe ordens através de mensagens de telemóvel, quem efetivamente se suicida, precisa(va) desesperadamente de ajuda e de atenção. Olhar para o lado e fingir que não se vê a baleia na sala, não é de todo a melhor solução. As crianças também têm depressões e a adolescência é um lugar terrível.

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