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Ser super mãe é uma treta

Ser super mãe é uma treta

24
Mar17

Go the fuck to sleep*

Susana

“The cats nestle close to theirs kittens,

The lambs have laid down with the sheep.

You are cozy and warm in your bed, my dear.

Please go the fuck to sleep.”

 

A minha maior inabilidade enquanto mãe é a de adormecer os meus filhos. Com um mês a minha filha já dormia a noite inteira. Um sonho. O maior pesadelo era conseguir adormecê-la. Eu cantava, embalava, ralhava, tentava sentada, de pé, deitada na minha cama, com ela deitada no berço de mão dada comigo, no escuro, com a luz acesa, com música, sem música. Só não fiz o pino.

 

Não melhorou com a idade. Aos três anos e meio continua a ser um desespero. Não minto se disser que já estive três horas para a adormecer – o que teria dado para ver vários episódios da Guerra dos Tronos. A nossa rotina é simples. Está uns minutos ao meu colo, pede para a deitar na cama dela e começa a nossa saga. Se me levanto, pede para eu ficar só mais um bocadinho e mais dois bocadinhos e mais três bocadinhos; se eu digo que não, chora, grita, implora, eu ralho, eu grito, ela chora mais alto e não saímos dali. A solução é sempre a mesma: ficar com os nervos todos esfrangalhados e esperar que ela adormeça profundamente. Quando finalmente adormece, o que pode demorar cinco minutos ou uma hora, conto até cem (não se riam, eu conto mesmo até cem), levanto-me devagarinho e saio do quarto quase sem tocar no chão, para que a madeira não ranja o suficiente para a acordar.

 

Já vos disse que tenho dois filhos?

 

Com o meu filho mais novo o início foi doce. Não há dois filhos iguais, toda a gente o diz e eu queria acreditar. Era só deitá-lo na cama e ele adormecia sozinho. Não dormia a noite inteira, é certo, acordava três e quatro vezes para comer, madrugava mais cedo que o galo do quintal do vizinho, mas não me stressava para o adormecer e isso já era uma grande conquista para esta mãe. Afinal o problema não era meu!

 

Pouco depois de fazer um ano, o meu rapaz passou a dormir a noite inteira e escusado será dizer que começou o drama para o adormecer. Não há dois filhos iguais o tanas! Se dez vezes o deitar no berço, dez vezes ele acorda. Puxa os cabelos, os dele e os meus, grita, chora, vira-se para um lado e para o outro, quer ir para o chão. Raça do miúdo. Transforma-se no Lotso, o urso do Toy Story 3, cor de rosa, sorridente e a cheirar a morango, mas que no fundo é um rufia que quer controlar os brinquedos todos. Só o posso deitar no berço quando já está num sono profundo. Mais uma vez conto até cem (muito conto eu) e saio do quarto quase sem tocar no chão, para que a madeira não ranja o suficiente para o acordar.

 

Não há uma rotina que funcione, um ritual, não há livros, dicas, rezas ou terapeutas que ajudem. A única solução é ser o pai a adormecê-los. O problema não são eles, sou eu. Com o pai a corda não estica e comigo estica ao ponto de me só apetecer gritar: GO THE FUCK TO SLEEP.

 

* Título roubado ao livro de Adam Mansbach

 

Texto publicado originalmente no blog Amãezónia.

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