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Ser super mãe é uma treta

Ser super mãe é uma treta

26
Abr17

Existir para além dos filhos

Susana

"Pensa nos teus filhos." Quem nunca ouviu esta frase quando diz um ai?

 

Tenho mau humor pela manhã (e muitas vezes o dia todo), discuto sempre com o despertador e custa-me horrores não ceder à preguiça e sair da cama. Esqueço-me muitas vezes de tomar a medicação para a tiroide e quando vou a sair de casa volto atrás para meter perfume ou para ver se estou penteada. Tenho dezenas de cabelos brancos e a tinta para os pintar fica semanas à espera de energia para o fazer. Faço planos para cortar o cabelo ou arranjar as unhas e só o faço realmente em ocasiões especiais. É a minha filha que muitas vezes me diz que gosta dos meus pelos das pernas e com isso me lembra que é melhor fazer a depilação. Vou-me repetir: durmo mal há dois anos. Faço o caminho de casa para o trabalho em piloto automático e dou por mim a dormir em pé no metro. Sinto-me horrivelmente desmotivada no meu emprego e pico o ponto com grande sacrifício. Há dias em que só queria que os miúdos tomassem banho, jantassem e fossem para a cama sozinhos, para eu poder enfiar a cabeça na areia como uma avestruz.

 

Não me recordo da última vez que peguei na máquina e saí para fotografar. Li apenas um livro este ano, o que deve ter sido mais que no ano passado e não faço ideia de que séries são essas de que todos falam. Não há dia que não pense que depois de os deitar me vou sentar a escrever e quase todos os dias adormeço no sofá sem o fazer. Sinto-me muitas vezes cansada, esgotada, no limite. Também faço birras e tenho estados de alma. Sou impaciente, resmungo e detesto pessoas. Tenho medos. E são tantos. Desde ficar doente a andar de avião. Tenho desejos por realizar e às vezes os meus desejos passam simplesmente por dormir. Quando atravesso o rio e olho a minha outra margem sinto sempre saudades da minha mãe e dos meus irmãos. Às vezes preciso do colo da minha mãe. Também tenho saudades do meu marido e vejo-o todos os dias. Sinto falta dos nossos jantares demorados, das conversas pela noite fora, do sexo a qualquer hora.

 

Ser mãe é a mais incrível das viagens, com todas as suas aventuras e desventuras, dá-nos força para lá do imaginável. O mais difícil é não nos esquecermos de existir para além dos filhos, por isso quando alguém diz “pensa nos teus filhos”, devia antes dizer “pensa em ti”.

24
Abr17

Ainda as vacinas

Susana

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Parece que está na moda dizer aos outros para olharem para o boletim de vacinas, não vá termos surpresas. Como se ser anti-vacinas, com argumentos tão descabidos como a existência de unicórnios, fosse o mesmo que não dar uma vacina na data recomendada porque o filho está febril. A vida em sociedade obriga ao respeito pelos outros e essa coisa da liberdade é muito bonita, quando não atropela a liberdade dos outros. Por isso sim, olhem para o boletim de vacinas, para o vosso e para o dos vossos filhos, vejam se falta alguma e se faltar, vão tratar disso. Pelo bem de todos.

20
Abr17

Birras que transformam filhos em monstros

Susana

Os filhos são o melhor do mundo antes e depois de uma birra. Durante uma birra são pequenos monstros de duas cabeças, cada uma com mais sono que a outra.

 

São pequenos monstros de duas cabeças e bocas gigantes que gritam mais alto que os megafones da CGTP e têm braços e pernas elásticos que nos fogem quando os tentamos agarrar. São pequenos monstros de duas cabeças, bocas gigantes e corpos elásticos que se deitam no chão a gritar e a chorar como se fôssemos a bruxa má de todas as histórias.

 

Antes da birra somos as mais fixes porque as deixamos pintar os lábios com o nosso bâton. Depois da birra somos o carrasco a quem perguntam de segundo a segundo se ainda estão de castigo.

18
Abr17

Antes de ser mãe fui madrasta

Susana

“Era uma vez uma bela jovem chamada Cinderela que vivia com o seu pai, um comerciante viúvo e muito rico. Cinderela perdera a mãe ainda criança e o seu pai, pensando que Cinderela precisava de uma nova mãe, decidiu casar-se novamente. A madrasta da Cinderela, também era viúva e tinha duas filhas muito feias e muito más, do seu primeiro casamento.”

 

Se pensarmos em madrastas, pensamos imediatamente em todas as histórias terríveis que a Disney nos ofereceu. Pais viúvos, segundas mulheres más como as cobras, crianças infelizes. Antes de ser mãe, fui madrasta.

 

Como tudo começou

 

Quando conheci o meu marido ele estava divorciado e tinha um filho de três anos. Eu era solteira e não tinha filhos. Na altura, nada disto era muito importante, éramos duas pessoas que se estavam a conhecer e sem expectativas em relação ao futuro, mas ver nele um pai que nunca desistiu do filho e por só me ter apresentado o G. mais de um ano depois de nos termos conhecido, ajudou a revelar o homem que tinha ao meu lado. A relação entre pai e filho era sagrada. Tudo o resto podia esperar.

 

E esperámos

 

Eu já conhecia o G. muito antes de nos conhecermos pessoalmente. Já conhecia as brincadeiras preferidas, a adoração pelo Faísca, já lhe oferecia carrinhos da Hot Wheels, conhecia as tosses, as otites, as gracinhas e as birras das férias no Algarve. O momento em que eu e o G. nos conhecemos foi muito importante. Para ele talvez não, dificilmente se terá apercebido do significado, mas darmos aquele passo, significava que os três íamos fazer parte da vida uns dos outros.

 

Construir uma família

 

Construir uma família que para nós é a primeira e para as crianças é a segunda têm de ser feito com pés de lã. Para a criança existia a família da mãe, ele e o pai e agora uma outra família onde existe uma estranha, que não é a mãe, mas que ele tem de respeitar, obedecer e de quem tem de gostar, sem perceber muito bem porquê. Não é fácil. Para mim o mais importante sempre foi que o G. se sentisse em casa, mesmo que só estivesse connosco de quinze em quinze dias e que se fosse libertando dos estímulos negativos em relação a mim. As crianças são esponjas e se o outro lado da família não está resolvido em relação à separação, tudo se torna mais difícil. Somos questionadas, desafiadas e ouvimos algumas vezes o célebre “não mandas em mim, não és a minha mãe”, mas a realidade é que coisas como essa fazem parte da construção da relação com a tal estranha, onde cada um percebe quais são os limites e qual é o seu lugar.

 

Antes e depois de eu ter filhos

 

O G. era filho único. Quando eu e o meu marido decidimos ter filhos, eu imaginei que iria ser difícil para uma criança habituada a ser filha única. E foi. Também o foi para mim. Depois de ser mãe tudo é diferente. Temos ali a nossa cria e como leoas queremos protegê-las de tudo, até daquilo que um bebé não percebe, os ciúmes do irmão mais velho. Foi difícil para todos. Tive de perceber que quase tudo o que o irmão dizia ou fazia eram sentimentos irracionais, à flor da pele, e que ele estava a lidar com todas as mudanças com as ferramentas que tinha. Mea culpa. Acho que falhei em grande com a minha impaciência. Eu era a adulta. Em minha defesa tinha hormonas que me davam cabo da cabeça e uma pequena cria que me parecia em perigo e às vezes só me apetecia puxá-la para um canto e lamber-lhe as feridas (que não tinha) como a mãe do Rei Leão.

 

Com o tempo percebi que os irmãos são irmãos e que a maior parte das vezes resolvem as desavenças sozinhos. Desentendem-se e entendem-se à velocidade da luz, mas que no fundo se amam. Quando o meu filho mais novo nasceu já não havia novidade, quando os ciúmes vieram foram chutados para canto e ignorados. Agora são só três irmãos a serem irmãos, máquinas de fazer barulho, que nos dão cabo da paciência em igual medida.

 

Ser madrasta

 

Quando pensei em escrever este texto pensei que sabia perfeitamente o que é ser madrasta, mas à medida que fui pensando e escrevendo, apercebi-me que não. Percebi que com o G. também fui aprendendo a ser mãe. Com ele passámos pelas coisas pela primeira vez, as férias a três, a ida para a primária, os trabalhos de casa, estudar para os testes, o orgulho com as boas notas, os ciúmes quando a irmã nasceu, corrigir comportamentos, ensinar a atar os ténis, a ida para o ciclo, a terrível pré-adolescência. Com ele sou exigente como sou com os meus filhos e também erro e exagero como com os meus filhos. E se com os meus filhos tenho todos os dias para me redimir dos meus erros, com o G. não tenho e talvez seja essa a maior frustração. A minha impaciência e a falta de tempo para dar mimo a seguir. A minha filha diz que eu também sou um bocadinho mãe do mano crescido, mas ser madrasta não é o mesmo que ser mãe. Temos de o dizer sem receios. O amor entre pais e filhos é um amor diferente, visceral e para esse amor existem os pais e os filhos. O amor entre madrasta e enteado é um amor que se vai construindo, como uma casa e se os alicerces forem sólidos é um amor que dura para sempre. Assim o desejo.

 

Texto publicado originalmente no blog Amãezónia.

 

17
Abr17

Tempo de qualidade, esse mito

Susana

Existe um mito que diz que os pais não passam tempo de qualidade com os filhos. E o que é isso do tempo de qualidade? Mais uma merda que alguém inventou para encher os pais de culpa, como se o tempo de qualidade fosse apenas feito de experiências épicas ou de pais sentados no chão a brincar com os filhos de cronómetro na mão.

 

Não é.

 

Tempo de qualidade é quando estamos a tomar o pequeno-almoço no sofá e temos os miúdos à nossa volta a comer do nosso pão. Tempo de qualidade é quando o pai está a pentear a mais velha com a delicadeza que eu não tenho, enquanto o mais novo lava os dentes sozinho. Tempo de qualidade é vê-los a descer as escadas ao colo do pai e eu a pedir para falarem mais baixo porque os vizinhos estão a dormir. Tempo de qualidade é quando chegamos a casa e os deixamos ver a Patrulha Pata e o Ruca e a Masha, enquanto o pai faz o jantar e eu lhes preparo o banho. Tempo de qualidade é dar banho aos dois ao mesmo tempo, lavar a cabeça dela, enquanto ela lava a cabeça do irmão, é tirá-los do banho e vesti-los na nossa cama. Tempo de qualidade são as conversas com a mais velha durante o jantar ou quando jogamos à bola na sala antes de eles irem para a cama. Tempo de qualidade é estarmos as duas no sofá a colar cromos na caderneta da Bela e o Monstro ou quando vemos o E. T. até ao fim ou ela nos diz que sabe cantar em inglês as músicas do Música no Coração. Tempo de qualidade é vê-los correr na praceta a chamarem os gatos da rua ou irmos ao parque dar pão aos patos. Tempo de qualidade é vê-lo destemido a descer o escorrega pela primeira vez ou vê-la de caracóis ao vento no baloiço que a leva até à lua.

 

O tempo de qualidade é feito de rotinas, de momentos simples, de gargalhadas, de conversas, de amor, todos os dias. Era bom que percebessem isso e deixassem de lixar a cabeça aos pais, esta merda já é difícil o suficiente sem dedos apontados.

12
Abr17

Notas breves

Susana

Poucas coisas são tão perfeitas como ter um filho a dormir nos nossos braços. Pensei nisto enquanto a minha filha adormeceu ao meu colo. A cabeça encostada no meu peito, o cheiro a pêssego dos cabelos encaracolados, a respiração suave, os meus braços à volta dela. O meu corpo a fazer de casulo, um lugar seguro. Se pudesse ser sempre assim.

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