Este texto foi escrito quase há um ano e continua a fazer todo o sentido. Têm sido dois anos extremamente esgotantes, com muitas mudanças, limitações fisicas e tortura do sono constante. Não é desculpa, o rinoceronte ainda que tenha perdido algum peso, continua gordo. Hoje não é o dia um, esse já foi, mas é o dia de voltar a estar focada. Por mim.
Hoje olhei-me ao espelho e vi um rinoceronte. Ou dois, não tenho bem a certeza porque estava sem óculos.
Para dizer a verdade já o andava a ver há muito tempo, mas fui usando todas as desculpas que me lembrava para o ignorar. A tiroide, o cansaço, as mudanças no emprego, começo amanhã, começo depois, a gravidez. Durante quanto tempo podemos usar a desculpa da gravidez para estarmos gordas? Acho que essa já não resulta, a minha filha mais velha tem 3 anos e o meu filho mais novo já fez 1 ano e se quero continuar a dizer a verdade tenho de admitir que já ando à luta com o peso há 12 anos.
Até aos 24 tive um peso normal, cabia confortavelmente numas calças tamanho 38, tinha cintura e uma barriga que permitia um biquíni. Apesar de comer como um rinoceronte - comer é bom, não me lixem - fazia desporto e uma coisa compensava a outra.
O primeiro aumento de peso significativo aconteceu quando fiquei desempregada. Um ano em casa de rabo alapado no sofá a comer bolachas e baldes de gelado, com horários trocados e muita pena de mim. Quando dei por isso tinha engordado uns redondos 30 quilos.
Juro!
Foi o primeiro encontro com o rinoceronte. Quando me vi numa fotografia não me reconheci, quem raio era aquela gorda? Não queria voltar a olhar para ela. Levantei o rabo do sofá, fiz a dieta mais restritiva e carregada de drenantes que encontrei e perdi em pouco tempo mais de metade do peso que tinha em excesso.
Nos anos seguintes continuei com peso a mais. Ele ia oscilando consoante o humor, a força de vontade e era agravado pela genética - essa filha da mãe que a uns permite comer tudo sem engordar e a outros transforma-os em rinocerontes - mas só quando pensei em engravidar é que voltei a sério ao assunto. Não queria engravidar com peso a mais. Pode parecer idiota emagrecer para engordar logo de seguida, mas foi isso mesmo que fiz. Segui uma dieta aconselhada por uma nutricionista, comecei primeiro a fazer caminhadas e com o incentivo e companhia do meu marido deixei-me de mariquices e comecei a correr.
Ao fim de alguns meses voltei a enfiar-me numas calças tamanho 38, corríamos 1 hora, subia escadas sem me cansar, gostava de me ver ao espelho, tinha mudado os meus hábitos alimentares, sentia-me saudável e estava saudável. Estava orgulhosa.
Depois engravidei, engordei 16 quilos, pari e continuei a engordar, dois anos depois voltei a engravidar, engordei 6 quilos, pari e continuei a engordar.
Os filhos trouxeram-me quilos de felicidade, quilos de sono, quilos de preocupações, quilos de amor e também me trouxeram falta de tempo para me colocar em primeiro lugar de vez em quando. Se não conseguir correr com eles no parque, se não conseguir sentar-me no chão para brincar e depois levantar-me sem parecer a minha avó, se não conseguir subir até ao 3º andar sem dizer deusmajude 30 vezes, não estou a ser boa para mim, nem a dar-lhes um bom exemplo.
A sociedade espera mulheres magras, maquilhadas, de saltos altos, bem sucedidas no emprego, boas donas de casa e mães perfeitas. A sociedade que vá à merda. Só temos de estar à altura das nossas expectativas. Perder peso é uma questão de saúde, física e mental. De autoestima e de controlo. E só diz respeito a cada um e deve ser feito ao ritmo de cada um.
Existem milhares de dietas, bloggers, instagramers, runners, personal trainers, dietas de princesas, dietas paleo e o diabo a quatro, que fazem parecer tudo fácil e idílico, com fotografias carregadas de filtros e expectativas irreais. Não é para mim.
Digo-vos o que resulta comigo:
- Não esperar milagres, esses nem em Fátima, perder peso custa muito, manter o peso no desejado custa ainda mais;
- Bebo pelo menos 1,50lt de água por dia;
- Desisti dos sumos à refeição, mas bebo coca cola zero, um copo de vinho tinto ou uma cerveja sempre que me apetece, se a dieta é uma coisa para sempre, eu vou querer prevaricar de vez em quando;
- Pão só ao pequeno almoço, não prescindo da minha chávena de café e do meu pão com queijo enquanto vemos as notícias da manhã;
- Comer alguma coisa que adoro uma vez por semana. Para mim um gelado cura todos os males, mas vocês é que escolhem;
- Arroz, massas, batatas, não mais que uma ou duas colheres de sopa;
- A carne ou o peixe não deve ser maior que a palma da nossa mão;
- O prato a transbordar de vegetais;
- Variar os vegetais para não enjoar: alface, pepino, tomate, beterraba ralada com cenoura, brócolos, feijão verde, cogumelos salteados, vale tudo;
- Palitos de cenoura para quando dá vontade de comer mesmo antes do almoço;
- Levar três ou quatro bolachas para o trabalho em vez do pacote inteiro;
- Fruta, muita fruta e variada. Sei que a fruta também engorda, mas prefiro a frutose de um pêssego ou de uma banana do que o açúcar de um croissant com chocolate;
- Evito fritos, prefiro grelhados, assados, cozidos, carnes brancas e peixe, vocês já sabem isto tudo;
- Não estar muitas horas sem comer;
- E mexer-me. Caminhar, correr quando for possível, subir e descer escadas, tirar o pó da elíptica e dar-lhe uso, o que conseguir.
Todas sabemos a teoria e não estou a falar das stressadas que querem perder três quilos, nessas magricelas apetece-me bater-lhes. Falo de quem luta realmente com o peso, de quem é obeso e precisa de recuperar a sua saúde.
Hoje é o meu dia um, o dia em que escolho deixar de ver o rinoceronte no espelho. Por mim.
Texto publicado originalmente no blog Amãezónia.