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Ser super mãe é uma treta

Ser super mãe é uma treta

29
Set17

Super poderes que eu não me importava de ter

Susana

Eu que não quero ser super mãe, dei por mim a pensar que até me dava jeito ter um superpoder ou outro. As circunstâncias deste devaneio? Estava a conduzir, em plena auto-estrada, sozinha com os dois, quando começam os gritos vindos de trás. O costume. O cinto está apertado demais, a chucha caiu, querem bolachas, água, fazer xixi, moer-me o juízo.

 

O que me dava jeito naquele momento? Ser a mulher elástica. Segurar o volante com uma mão, esticar o outro braço, apanhar a chucha, espetá-la na boca do mais novo, tirar a água da mochila e dar à mais velha e pelo caminho ia-lhes dando uma belinha na testa para pararem de gritar.

 

Quando dei por mim estava a pensar em todos os superpoderes que me iriam facilitar a vida:

 

Invisibilidade – Para não ter de me esconder dos miúdos na casa de banho.

 

Invencibilidade – Para me ajudar a não sucumbir à tortura do sono a que sou sujeita vai para vinte oito meses e para resistir a todas as viroses que os miúdos trazem da escola.

 

Ler pensamentos – Para conseguir perceber o que raio se passa naquelas cabeças para que façam tantas birras.

 

Controlar a mente – Em conjunto com o anterior, para antecipar as birras, para não serem teimosos como uma mula, para deixarem de dizer que não e para me obedecerem imediatamente! Até fiquei cansada.

 

Visão noturna  – Para não dar pontapés nos brinquedos e cabeçadas na parede, quando me chamam a meio da noite para virem para a nossa cama.

 

Visão raio x – Para ver onde enfiaram o boneco que tanto procuram ou para estar na cozinha e a controlar os disparates que estão a fazer na sala.

 

Metamorfose – Porque às vezes me dava jeito transformar-me no pai, principalmente na hora de adormecer a minha filha (com o pai a coisa corre sempre melhor).

 

Duplicação – Para conseguir responder aos dois ao mesmo tempo, principalmente quando o pai está fora. Duas de mim era o ideal, para dar banhos, jantar e adormecer os dois. Duas mães a gritar também havia de ser bonito de aturar. Aguentem-me.

 

(Super) Resistência física e mental – Para conseguir levantar-me da cama fresca como uma alface, mesmo sem ter dormido decentemente e para aguentar todas as birras com um sorriso nos lábios e os neurónios intactos.

 

Agilidade – Para aguentar uma hora com eles no parque, dos baloiços para o escorrega e do escorrega para os baloiços ou para agarrar o mais novo no ar quando está prestes a cair do sofá e a bater com a cabeça no chão.

 

A força do Super-Homem – “O pai é mais forte que tu!” O que a minha filha quer é que eu alombe com eles ao colo até ao terceiro andar como o pai faz e chama-me fraquinha. Machista!

 

Velocidade – Para ao fim-de-semana arrumar a casa em meio minuto e alapar o rabo no sofá como não faço há mais de quatro anos.

 

As garras do Wolverine – Para cortar o cabelinho às mamãs que me irritam no parque. Vocês sabem quais são.

 

Voar – Para ir para casa sem passar pela confusão do metro e o mau cheiro dos barcos, para abraçar os meus filhos e curar as frustrações do dia com os sorrisos deles. Até que comecem a fazer birras porque não querem partilhar os brinquedos, claro.

 

Telepatia – Para comunicar com o meu marido sem os miúdos perceberem, do tipo “Meu amor, hoje és tu que vais adormecer os dois que eu estou que não me aguento!”

 

Se continuasse a pensar nisto nunca mais acabava, queria poder estalar os dedos e deixar de os ouvir a chamar por mim de segundo a segundo, curá-los imediatamente quando ficam doentes, prever o futuro para ter a certeza que estou a fazer um bom trabalho, estalar os dedos e dar por mim deitada numa praia paradisíaca a saborear um gin tónico sem miúdos por perto. Como não tenho superpoderes para além da minha incrível capacidade de andar na rua em piloto automático, vou deixar-me destas tretas e acordar para a realidade.

 

Texto escrito em parceria com a Up to Kids.

28
Set17

As mães precisam de dizer mais vezes que se foda

Susana

Que se foda se os nossos filhos nasceram de cesariana por opção.

 

Que se foda se não gostamos de amamentar e passamos diretamente para o leite adaptado sem passar pela casa de partida.

 

Que se foda se começam a andar com nove, quinze ou vinte meses.

 

Que se foda se não se percebe um boi do que dizem aos dois anos e mesmo assim são espertos como o raio.

 

Que se foda se ainda usam fraldas aos dois anos, os miúdos não vão casar de fraldas e se forem que se foda.

 

Que se foda se o chão tem migalhas, se há bolacha maria espalhada pelos móveis, baba nos vidros da sala ou dedadas na televisão.

 

Que se foda se os miúdos não tomaram banho um dia, se nos esquecemos de lhes cortar as unhas ou limpar os ouvidos.

 

Que se foda se deixaram comida no prato, se não comeram os legumes ou a porra da sopa e mesmo assim os deixamos comer sobremesa.

 

Que se foda se de vez em quando comem douradinhos ou pizza, se bebem sumo e não temos a mínima paciência para comidas paneleiras que demoram uma vida a imaginar e outra a confecionar.

 

Que se foda se a roupa não está passada e guardada nas gavetas e se não sabemos há meses do par das meias preferidas.

 

Que se foda se não gostam de vestidos, de folhos e querem calçar todos os dias os mesmos ténis.

 

Que se foda se foram para a escola com as mãos todas riscadas de caneta porque se divertiram à brava a pintar no dia anterior.

 

Que se foda as opiniões dos outros, as certezas absolutas e a parentalidade positiva.

 

Que se foda a culpa, que se fodam todos os que nos querem fazer sentir culpadas.

 

Não há fórmulas, nem certezas absolutas, o que resulta com um filho não resulta com outro, vamos tentando, ajustando as velas, vamos levando o barco o mais que conseguimos para longe das tempestades, mas vamos cometer muitos erros, encalhar e voltar a tentar, que se foda, é a vida, somos pessoas imperfeitas, pais imperfeitos que amam os filhos.

 

Só o amor importa. O resto? Que se foda.

25
Set17

A mudança de escola

Susana

Com o início do novo ano letivo decidimos mudar os miúdos de escola. Seguimos o nosso coração e a nossa cabeça, eles precisavam de mais, não mudar era continuar a ignorar o óbvio.


Sabíamos que ia ser muito difícil para eles, a mudança exige muito de qualquer um e querer que as crianças lidem com a mudança e com os sentimentos inerentes a essa mudança de ânimo leve é ser muito ingénuo.


Eu não fui completamente ingénua, fui talvez otimista demais. Estava preparada para a dificuldade, para choros e birras, para as emoções e para a insegurança, não estava era preparada para estas duas últimas semanas.


Foram duas semanas com birras demoníacas e se esperam que vos diga que já acabou, não, não acabou.


Passo os dias a repetir a mim mesma que vai correr tudo bem e que eles se vão adaptar à escola nova. Procuro dentro de mim a paciência que não tenho, invento a calma que acho que é precisa, a mãe que grita está escondida algures numa gruta para não piorar as birras e rezo a todos os santinhos em que não acredito para que se faça luz e que isto melhore antes que eu fique completamente maluca. E juro que já não falta muito.


Toda a minha energia física e mental tem sido sugada para esta adaptação. São os choros desesperados das manhãs, são as birras do final do dia que mais parecem saídas de um filme de terror e eu sinto-me uma malabarista que, em vez de bolas nas mãos, tem birras que vai fazendo girar no ar, para que nenhuma caia no chão e rebente como uma bomba atómica.


O meu cérebro está esgotado, não consegue juntar duas palavras sem enorme esforço, sinto dores no corpo como se tivesse sido atropelada por um camião, mas mesmo assim eu continuo a repetir sem parar que vai correr tudo bem, que os miúdos se vão adaptar e aproveitar ao máximo a nova escola.


Já estarei maluca?

 

Texto escrito em parceria com a Up To Kids.

07
Set17

Setembro

Susana

Setembro lembra-me sempre o regresso às aulas. O cheiro dos livros novos que encadernava sozinha e deixava cheios de bolhas. Os cadernos para cada disciplina que depois passavam a dossier e novamente a cadernos. As canetas gordas que tinham várias cores, que eu adorava e estragava em dois dias. As festas nas aulas número cem e a garrafa de Sumol que parti no intervalo. As mini-saias-muito-mini e os joelhos e os cotovelos esfolados. Jogar ao berlinde e ao espeta quando já estava a tocar para as aulas. A primeira balda para ir à feira andar de carrinhos de choque com colegas mais velhos e mais charrados do que eu. A primeira paixão e a segunda por dois rapazes aos mesmo tempo. A euforia dos primeiros dias de aulas e a vontade de ficar a dormir nos restantes. Os sacrifícios da minha mãe. Chegar a casa e ter em cima do sofá os livros, as canetas, os cadernos, a mochila cor-de-rosa. Setembro lembra-me sempre o regresso às aulas e a certeza que a minha mãe nunca me iria faltar.

05
Set17

O primeiro dia: nova escola, novas emoções.

Susana

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Ontem foi o primeiro dia dos meus filhos numa escola nova. Para nós, a decisão de os mudar foi fácil, queremos sempre o melhor para os nossos filhos e apesar de anteciparmos que para eles não ia ser fácil, permanecemos convictos que esta mudança era importante e tinha que ser feita.

 

De manhã era este o estado de espírito. A minha filha nem quis tirar uma fotografia com o irmão para registar o momento.

 

Apesar da euforia dos últimos dias, da ansiedade para viver tudo o que vai ser diferente, para aprender coisas novas que tanto gosta e fazer novas amizades, a realidade é mais dura e não espera pelos nossos estados de alma. Houve choro que no caso dela passou rápido e houve choro que no caso dele durou a manhã toda. Mudar de escola depois de dois anos no caso do Tiago e de quatro anos no caso da Mariana é exigir muito deles. É pedir que lidem com as suas emoções, com os seus medos, com as suas inseguranças, num espaço totalmente novo e com pessoas que acabaram de conhecer, mas apesar do turbilhão dos primeiros dias, tenho a certeza que vão crescer confiantes e que mais à frente vão colher frutos mais doces e mais variados.

 

Hoje a manhã correu melhor. Os meus filhos são corajosos e enchem-me de orgulho. E nós apesar do coração apertado, sentimos que estão bem e que ali vão ser felizes. E nós só queremos que sejam felizes.

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