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Ser super mãe é uma treta

Ser super mãe é uma treta

31
Dez17

Doze coisas que vos quero dizer para 2018

Susana

Antes que o ano acabe e eu esteja a dormir no sofá à espera das doze badaladas, aqui ficam doze coisas que vos quero dizer para 2018:

 

1) digam muitas vezes que se foda.

2) esqueçam a porra da culpa.

3) se alguém vos der uma opinião que não pediram mandem essa pessoa à merda.

4) não se esqueçam que o sexo faz parte do casamento e é bom.

5) marquem férias sem os miúdos, nem que sejam dois dias.

6) façam alguma coisa por vocês, o quê não sei, até pode ser ir ao dentista.

7) não vivam obcecados em criar memórias épicas nos miúdos, eles querem lá saber se estão a passar férias no Algarve, nas Maldivas ou na Costa da Caparica.

8) não deixem que vos fodam a cabeça, a mãe dos vossos filhos são vocês e vocês são a melhor mãe para os vossos filhos.

9) berrar baixo não existe e nem todas as birras se acalmam com abraços e não faz mal.

10) que não vos falte um copo de vinho depois dos miúdos estarem a dormir.

11) os grupos de mães só servem para vos enervar, fujam deles.

12) a parentalidade positiva não existe, o que existem são pais cheios de sono, com os nervos todos rebentados, a fazerem o melhor que conseguem pelos filhos.

 

Feliz ano novo!

30
Dez17

2018, podes vir!

Susana

Comecei a escrever sobre este ano e dei por mim a escrever um texto morninho e cheio de pensamento positivo. Depois de me olhar ao espelho e confirmar que eu era eu, penitenciei-me com dez chapadas e apaguei o texto.


Este ano foi um ano filho da mãe. Não há lugar a palavras doces. Repito: foi um ano filho da mãe.

 

Testou a nossa família com golpes duros, muitas viroses, muitas ausências do pai, a mudança de escola dos miúdos, muitas birras e muitas noites mal dormidas. Olho para trás e o que vejo é uma mulher esgotada, cheia de sono e a viver em piloto automático.


Não li os livros que gostava de ter lido, aturei demasiadas birras, pensei que fosse enlouquecer, não peguei na máquina fotográfica uma única vez, ainda não foi este ano que fomos ao teatro, será que fomos a algum concerto? Não me lembro. Apanhei várias camadas de nervos, como diria a minha querida avó. Acho que fomos duas vezes ao cinema, ou terá sido uma? Fiz a depilação menos vezes que o desejável, a tinta para pintar os cabelos brancos ficou muitas vezes esquecida, não tivemos o tempo merecido a dois, sexo, isso existe depois da maternidade? O emprego continuou a ser a minha pedra no sapato, não cuidei de mim como deveria, adormeci vezes demais no sofá enquanto o meu marido conversava comigo, as várias dietas que comecei duraram dois dias, passei a detestar pessoas ainda com mais convicção. Os miúdos estiveram doentes a porra do ano todo, um de cada vez e os dois ao mesmo tempo. A minha paciência conheceu novos limites, gritei vezes demais ou talvez não, que a parentalidade positiva não é para mim e esqueci-me muitas vezes de existir para além dos filhos ou para ser mais justa, não tive muito tempo para existir para além dos filhos.


Estamos quase no final do ano e se, por um lado, a vida não se compadece com calendários, por outro, sinto em mim todo o peso do ano que está a acabar e não desfazendo de tudo o que de bom aconteceu e foi muito, é impossível olhar para trás sem desejar que chegue depressa um novo ano, com doze meses inteirinhos, para eu o encher de planos que não vou concretizar, de noites mal dormidas, de camadas de nervos e de birras dos meus filhos.


Podes vir 2018, mal posso esperar.

 

Texto em parceria com a Up to Kids.

29
Dez17

Breve inquérito a mães normais (3)

Susana

Esta semana trago-vos a minha amiga Sílvia, que fez o favor de não se preocupar com o limite de caracteres e escreveu o que bem lhe apeteceu. A Sílvia tem dois filhos, mais ou menos da idade dos meus, tem uma filha que é um desafio constante, miúdas de personalidade forte dão cabo de nós e um filho que veio acrescentar loucura à sua vida. Diz-se uma mãe em construção. Desabafamos muitas vezes uma com a outra por mensagem e tentamos ajudar-nos a sobreviver à loucura da maternidade e às ausências dos pais. Lembro-me de uma sugestão que me deixou a rir às gargalhadas, deixar a miúda saltar em cima da cama até que a birra desapareça. Ela garante que resulta. Gosto particularmente da forma descontraída e nada fundamentalista como vê a maternidade e ela é uma mulher do norte carago, as respostas dela só podem ser em bom.

 

Sou a Sílvia, trabalho num BackOffice onde analiso reclamações, tenho uma filha com cinco anos e um filho com um ano e meio.

 

Qual a coisa de que tens mais saudades de fazer desde que és mãe?

Há muitas: dormir; comer uma refeição com calma e em silêncio; sair de casa para fazer algo que não seja trabalhar ou participar num programa infantil; poder curtir uma virose em paz sem ter que estar doente e cuidar de outros doentes; viajar sem ter que me preocupar com as horas de distância ou a possibilidade de as crianças apanharem uma doença exótica... Mas, se tivesse que escolher, “ A” coisa seria: ter momentos em que não tenha absolutamente nada para fazer. Desde que sou mãe acho que isso nunca mais existiu...Tenho a vaga ideia de tais momentos serem uma realidade antes da maternidade... Seriam?

 

 

O que mudou em ti com a maternidade?

Começa por ser uma mudança física. Logo desde a gravidez, começam a ser testados os limites de resistência do nosso corpo e da nossa mente: cansaço, sono, dores nas costas, vírus atrás de vírus... Ainda não sei bem até quando isto dura, mas não vejo grande luz ao fundo do túnel.


Depois há as mudanças mais ao nível das emoções. Deixei de ser só a Sílvia para passar a ser também a mãe de alguém, como se tivesse nascido uma nova faceta de mim que tenho vindo a aprender a conhecer. 


Eu e o meu marido tivemos que encontrar (ainda estamos a construir esse caminho) um novo equilíbrio na nossa relação porque tínhamos encontrado uma harmonia a dois que ficou destabilizada com a chegada de mais dois.

 

Também fiquei a conhecer todo um novo mundo cuja existência desconhecia: o mundo das mães. Fiquei a saber que há blogs, fóruns e grupos de mães onde se discutem temas que vão da mais pequena borbulha às questões mais filosóficas, passando por um sem fim de recomendações. Descobri também que há sempre diversas teorias sobre tudo o que tenha a ver com as crianças: alimentação, sono, birras, transporte, disciplina... Há teorias para tudo e têm sempre um nome estrangeiro. Acho este último detalhe curioso.

 

Acho que também aprendi a gerir um bocadinho melhor o meu tempo porque ele escasseia.

E faço mais planos, tenho mais medos, menos certezas. Acho que me tornei mais indecisa e insegura com a maternidade, talvez seja porque, no fundo, ainda estou muito no início da minha carreira de mãe.

 

 

És a mãe que imaginaste?

Tenho que confessar que eu nunca me imaginei como mãe. Chegou uma altura em que começamos a ter vontade de construir uma família e comecei a imaginar como seria espetacular sermos três em vez de dois. Mas sempre me concentrei nesse ponto de construirmos uma família e nunca imaginei ou refleti sobre qual seria o meu papel nesse novo contexto.

 

E depois a coisa aconteceu e ainda hoje, cinco anos depois, olho para a minha filha e pergunto ao meu marido: como raio é que chegamos aqui?!

 

Com esta pergunta puseste-me a pensar sobre que tipo de mãe sou. Acho que sou a “mãe em progresso”, ainda em construção. Os primeiros pilares estão prontos, as plantas desenhadas no geral, mas ainda não no particular. O resto virá com tempo, trabalho e dedicação.

 


Que conselho darias a alguém que está a pensar em ser mãe?

Um conselho para uma fase específica, os primeiros meses da vida do bebé: cinco ou seis meses em casa com a mãe/ pai é muito pouco. Avaliem bem todas, mas mesmo todas as hipóteses possíveis, façam contas bem rigorosas à vossa vida e tentem que ou a mãe ou o pai consigam ficar mais tempo em casa com o bebé. O bebé merece, a família toda merece!

 

Um conselho para o dia-a-dia: há certas horas, dias, semanas, meses, em que nos parece que estamos a atingir o nosso limite e não aguentamos mais. Mas se pensarmos na vida como um todo, o que é uma hora, ou até um mês? Tentem respirar fundo e pensar: vai passar e vai passar mais rápido do que conseguimos imaginar. Este pensamento não funciona sempre (porque às vezes estamos mesmo cansadas, desesperadas), mas funciona às vezes e isso já uma ajuda.

27
Dez17

Mãe 1 – Pai Natal 0

Susana

No dia vinte e cinco à tarde, de regresso da casa da minha avó, a minha filha:

 

- O Natal já acabou?

- Está quase a acabar.

- Então quer dizer que já não vou receber mais presentes?

- Já recebeste todos os presentes deste Natal.


De volta recebo um suspiro de tristeza. Imagino que tenha ficado a pensar nos presentes que pediu ao Pai Natal e que não recebeu. Não foi premeditado, nem para lhe dar uma lição, porque as lições são dadas todos os dias. É um bocado estúpido encher a boca de moral e dizer que não vamos encher os miúdos de brinquedos no Natal, se no resto do ano nos esquecemos de dizer não e eles vivem atolados em brinquedos.

 

Dos presentes que os miúdos pediram, apenas tiveram um, os outros foram escolhidos por nós, porque apesar de eles viverem uma mentira, nós vivemos a realidade e quem compra os presentes somos nós e não o Pai Natal. Decidimos que os presentes que tinham pedido ou eram estupidamente caros ou passados dois minutos iam ignorar olimpicamente o que tinham pedido. Escolher presentes através das revistas dos hipermercados dá mais cocó que o bebé que faz cocó de verdade e já me bastou o ano passado ter andado atrás de um Panda que faz cócegas.

 

O meu filho que ainda não percebe essa coisa do pedir presentes ao Pai Natal foi de longe o que mais se divertiu. Receber presentes foi uma festa com direito a palmas e vivas e ainda nem os tinha desembrulhado. Ficou maravilhado com tudo o que recebeu e anda para todo o lado com uma arca de Noé cheia de animais. A minha filha esteve eufórica na distribuição dos presentes, mas depois de os ter desembrulhado via-se nela o olhar de quem procurava alguma coisa. Mas ficou calada e só no dia seguinte é que perguntou pela cozinha que tinha pedido ao Pai Natal, pelo castelo da Frozen e pelo raio do bebé que faz cocó. Expliquei-lhe que tinha recebido outras coisas que não tinha pedido, que o que pedimos ao Pai Natal não é uma ordem, nem nos dá a certeza absoluta de que o vamos receber, mesmo que o nosso comportamento tenha sido exemplar, é um desejo e depois logo se vê que presentes recebemos ou não.

 

Aceitou a resposta, percebi que ficou de pé atrás com o Pai Natal, que ele afinal não é aquele velhinho simpático que responde a todos os nossos caprichos e começou a olhar com olhos de ver para os presentes que tinha recebido e acredito que os passou a apreciar mais.

 

Para mim foi perfeito, o cabrão do Pai Natal perdeu uns pontos, eu fiquei satisfeita com os presentes que lhes oferecemos e no fim os miúdos aprenderam mais alguma coisa.

20
Dez17

Breve inquérito a mães normais (2)

Susana

Mais um breve inquérito a uma mãe normal. Esta semana trago-vos a minha querida amiga Rita, cujo único defeito é ser benfiquista. É mãe de um miúdo lindíssimo e com este inquérito fiquei a saber que está nos treinos para o segundo. Deve andar a dormir bem.

 

Rita Correia, tenho 37 anos e sou assessora de imprensa. Tenho um filho, mas estou nos treinos para o segundo!

 

Qual a coisa de que tens mais saudades de fazer desde que és mãe?

O que mais tenho saudades de fazer é mesmo não fazer nada! É sair da cama, comer qualquer coisa e ficar a bezerrar no sofá o dia todo. Ver um jogo do Benfica sem interrupções, sem ter que andar para trás para ver melhor o golo…

  
O que mudou em ti com a maternidade?

Além das mamas mais descaídas por causa da amamentação, (podes tirar esta parte! :D), acho que fiquei mais medrosa, acho que ando mais com o coração na mão! 


És a mãe que imaginaste?

Acredito que sim. Quando estava grávida acreditava que um dos meus grandes defeitos, nervosismo, ia desaparecer, mas há alturas em que não sinto isso, em que tenho que respirar para não explodir à primeira situação… Mas tenho fé que um dia mude, ou não… já são 37 anos disto, de ter pouca calma! Falamos daqui a 10 anos, quando ele entrar na adolescência?


Que conselho darias a alguém que está a pensar em ser mãe?

Vai em frente, é o melhor do mundo e não há cliché melhor que: compensa tudo! Mas olha que não é só um mar de rosas como pintam: deixas de dormir, hormonas aos saltos, ficas descompensada, nos primeiros tempos deixas de existir, só a cria é que interessa. E cuidado com as depressões, não acontece só aos outros! Desde muito cedo têm personalidade própria, teimosos que nem uma mula… Mas volto a dizer é o melhor do mundo!

15
Dez17

Breve inquérito a mães normais (1)

Susana

Estamos rodeados de mães normais, mas insistimos em dar demasiada atenção às mães que vivem vidas muito distantes das nossas. Penso muitas vezes nas minhas amigas, na minha irmã, nas minhas colegas, em vocês que me lêem e até na insuportável da minha vizinha quando está aos gritos com as filhas e penso no que teriam para dizer.

 

Uma vez por semana, em vez de vídeos de recebidos, vou trazer-vos um breve inquérito a mães normais.

 

A primeira mãe, por razões sentimentais, é a Diana, que com a Rita, faz a dupla mais selvagem da Amãezónia. Noutra vida eu e a Diana fomos colegas de escola antes de sermos amigas, foi ela que me desafiou para escrever e é, agora que penso nisso, a responsável pela existência deste blog, (se quiserem reclamar é com ela). Ambas fugimos da culpa, detestámos amamentar e adoramos dizer asneiras.

 

 

Diana, tenho 37 anos e sou jornalista. Tenho uma filha.

 

Qual a coisa de que tens mais saudades de fazer desde que és mãe?

O que mais me custa é ter deixado de ter tempo (ou o direito) para estar sozinha. De ter tempo só para mim, sem interrupções. Poder ir a sítios quando quero sem ter de organizar tudo muito bem. De poder ver a porcaria do "Mentes Criminosas" sem ter de pôr na pausa cada vez que ela entra na sala porque ver um gajo a serrar outro ao meio é capaz de não ser fixe.

 

O que mudou em ti com a maternidade?

Deixei de poder ir à casa de banho sozinha. Raios partam.

 

És a mãe que imaginaste?

Às vezes sou. E isso é bastante fixe. Mas vamos esperar pela adolescência da miúda para ver até que ponto consigo ser essa mãe.

 

Que conselho darias a alguém que está a pensar em ser mãe?

Não te metas nisso. Mas se quiseres mesmo tem em conta que a vida muda toda. Mesmo toda, cada pedacinho dela. E que vai ser horrível. Mas vai ser a melhor coisa também. Tipo, a melhor mesmo. Mas às vezes a pior. Já percebeste a cena, certo?

14
Dez17

Vamos falar sobre sexo?

Susana

Acordamos a correr, tomamos o pequeno-almoço sentados no sofá a tentar ver as noticias, despachamos os miúdos, penteio-me à pressa, devia meter base nesta cara de morta viva, não tenho tempo, voamos pelas escadas abaixo, a mãe não pode perder o barco, chegamos aos barcos, um beijo, até logo, vou ver se ainda apanho este, eu sigo para Lisboa e o meu marido vai levar os miúdos à escola, antecipo a mensagem quando vou a meio do rio, os miúdos ficaram bem, sem choros, eu sorrio, trocamos e-mail’s durante o dia, tantas vezes sobre os miúdos, as compras, o que vamos jantar, o raio das despesas, é preciso pagar a visita ao circo, pagar, pagar, pagar, uma ausência, para o ano vou não sei onde, eu suspiro, a cabeça regressa ao trabalho, estou farta disto, se eu pudesse mandar tudo mais alto que as estrelas, chega a hora de sair, ligo a avisar, o meu marido vai buscar os miúdos, os nervos do metro sempre com perturbações, as conversas dos outros, detesto pessoas, meto a música cada vez mais alta, envio mensagem a dizer qual o barco em que vou, chego ao outro lado do rio e já estão à minha espera, tentamos conversar no carro entre as birras dela e as cantorias dele, as perguntas sobre o dia com respostas tortas, afinal quero voltar para o trabalho, chegamos a casa, voamos pelas escadas acima, eu dou banho aos miúdos, o meu marido faz o jantar, birras para lavar a cabeça, vamos para a mesa, birras para jantar, não gosto disto, tu gostas disso, camadas de sono, mal conseguimos conversar, vão lavar os dentes e já para a cama, eu adormeço o mais novo, o meu marido a mais velha, levantamos a mesa, a loiça fica para lavar amanhã, arranjo a roupa para o dia seguinte, quem se despacha primeiro é o primeiro a adormecer no sofá, acordamos todos tortos depois da meia noite e arrastamo-nos para a cama, adormecemos até um deles acordar e vir para a nossa cama. 

 

Na pressa dos dias, no carrossel das rotinas, envoltos em sono e cansaço, umas das coisas mais difíceis é não nos esquecermos de existir enquanto casal. Somos uma equipa do caraças que leva o barco para a frente haja o que houver. A casa, os filhos, o trabalho, as responsabilidades, mas também somos o que nos trouxe aqui, um homem e uma mulher que se amam e que se desejam.

 

As rotinas colam os nossos dias, não tenho medo delas, quero-as todas, o casamento não é feito só de fogo-de-artifício, mas o fogo-de-artifício faz parte e também o quero todo. Sem ele, sem o tempo para os dois, para o desejo, para o picante da vida, é fácil o afastamento. O casamento não é feito só de sexo, mas o sexo, para além de ser bom, é o reflexo da nossa intimidade enquanto casal. Sentirmo-nos desejados, homem e mulher, apesar de sermos pai e mãe é fundamental. É fácil ceder ao cansaço e adormecer no sofá, mas manter a chama acesa não é assim tão difícil. Um jantar a dois ou uma ida ao cinema que acaba num motel da beira da estrada, deixar os miúdos na avó uma tarde e regressar a casa sem medo de sermos apanhados pelos filhos e sermos obrigados a gastar as poupanças em terapia, uma escapadela de fim-de-semana no sitio mais improvável só para passarmos uma noite noutra cama, beber vinte cafés no sábado à noite para conseguirmos ficar acordados depois de adormecermos os miúdos ou mensagens provocadoras durante o dia. Vale tudo o que resultar.

 

Os filhos são a nossa prioridade, vinte e quatro horas por dia, todos os dias da semana, todos os meses do ano, eles esgotam a nossa energia e enchem o nosso coração de alegria e de vez em quando procuramos lembrar-nos que somos mais que o pai e a mãe e arranjamos tempo para o fogo-de-artifício.

 

Texto em parceria com a Up to Kids

07
Dez17

Filha, vamos falar sobre as tuas birras

Susana

Filha, vamos falar sobre as tuas birras. Aquelas que rebentam com os nervos do pai e da mãe e te transformam num monstrinho que grita e dá pontapés no ar. Aquelas que nós pedimos tanto, mas tanto, para não as fazeres e mal acabamos de o dizer já estás tu a espernear ou a escorregar na cadeira enquanto jantamos.

 

Tu sabes que fazes muitas birras não sabes? Fazes birras por tudo e por nada, fazes birras de manhã, à tarde e à noite, fazes birras de sono, de cansaço e de aborrecimento. Na verdade eu acho que fazes birras porque gostas de te ver a chorar ao espelho, não é? Confessa, eu já te apanhei a sorrir para o espelho enquanto as lágrimas te caiam pela cara. Estás só a gozar comigo e com o pai, não é?

 

Se eu te disser alguns dos motivos das tuas birras vais-te rir ou vais fazer mais uma birra, que tu não gostas nem um bocadinho que gozem contigo, mas olha meu amor, birra por birra, que seja uma que eu já estou à espera.

 

Filha, tu fazes birras porque:

 

- querias os cereais na tigela roxa e eu dei-te os cereais na tigela cor-de-rosa; 

- pintei-te primeiro a unha do polegar em vez da unha do anelar;

- não vês o arco-íris há muito tempo; 

- eu chego ao carro e digo-vos "Olá!" e vocês estavam a brincar ao silêncio;

- é de manhã; 

- não te leio vinte histórias antes de dormires;

- o pai pegou primeiro no mano ao colo;

- queres comer chocolates ao pequeno-almoço;

- o vento despenteou-te o cabelo;

- se partiu o bico do lápis com que estavas a pintar;

- querias as batatas fritas em cima do guardanapo e não no prato.

 

E é isto, de manhã, à tarde e à noite, em casa, no carro e, na rua, todos os dias da semana. Tu sabes que nós somos os melhores pais do mundo, somos um nadinha nervosos e impacientes, mas somos sem dúvida os melhores, filha tem dó de nós, ouve o desespero da tua mãe, podes fazer menos birras por favor?

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