A maternidade e um dos seus maiores flagelos
Um dos grandes flagelos da maternidade são as comparações. Todas o fazemos. As mães, em algum momento, já compararam os filhos com os filhos das amigas, com os filhos das desconhecidas e até entre irmãos. Eu já o fiz e enchi-me de bofetadas.
O meu filho começou a falar tarde, seja isso o que for, ao contrário da irmã que começou cedo a ser uma tagarela, ele dizia poucas palavras, as que dizia era mal pronunciadas e não fazia frases simples como “Eu quero água.” Quando dei por mim estava a verbalizar que a irmã com a mesma idade já falava muito mais, já construía frases e já espetava o dedo para ralhar comigo e com o pai. Porque é que o miúdo não fala?
Pausa para uma bofetada.
Respirei fundo. Olhei para um miúdo que compreendia tudo o que lhe era dito e voltei calmamente ao meu mantra de que cada criança tem o seu ritmo. Para tudo. Para começar a gatinhar, para começar a andar, para falar, para deixar as fraldas. Porra, até eu que dizia que o meu filho ia usar fraldas até à faculdade sei que isso não ia acontecer, no máximo usaria fraldas até ao secundário.
As comparações são normais, a competição entre mães é que já não é normal e sinal de uma patologia grave. Pouco importa se os miúdos começaram a andar com doze ou com dezoito meses, esta merda não é uma corrida de bebés para ver quem chega em primeiro. Os meus filhos começaram os dois a andar tarde, que é como quem diz depois dos doze meses, ela aos quinze e ele aos dezassete, ambos tinham um perfeito gatinhar de rabo que nos fazia rir à gargalhada e uma preguiça monumental para se meterem de pé e são incontáveis as vezes que me perguntaram:
- Então, já anda?
Foda-se, sim, já anda ao colo, respondi eu milhares de vezes. O que raio importa? Hoje os dois andam, correm, saltam. O que interessa a esta distância com que meses começaram a andar? Os miúdos que começam a andar cedo andam melhor? Não, porra, todos andam, ponto. Nós fodemos a cabeça uns aos outros com merdas que não lembram a ninguém.
E os dentes? Com que idade nasceu o primeiro dente dos meus filhos? Não sei, juro. Acho que a minha filha teve o primeiro dente aos sete meses e o meu filho não faço ideia, sim, eu sou essa mãe que não aponta nada, não tem um diário dos miúdos, nem o raio que o valha, mas estou a olhar para os dois agora e a ver duas bocas cheias de dentes. No final é o que importa certo? Já perceberam o que eu quero dizer. Comparamos, competimos, lixamos a cabeça uns aos outros, quando os miúdos estão no ritmo deles, bem se cagando para as nossas questões menores. Os miúdos não querem saber com quantos meses lhes nasceu o primeiro dente, eles vão mastigar tão bem como os outros e morder os outros miúdos quando for caso disso, nem eles querem saber, nem ninguém quer saber, na verdade, ninguém quer saber por saber.
Só vocês e o pai e os avós e os tios e os primos, na melhor das hipóteses, todos os outros, as amigas, as colegas de trabalho, as vizinhas, aquela mãe no centro de saúde, só querem saber para verem se os filhos deles estão em primeiro lugar no pódio do concurso do bebé a quem nasceu os dentes mais cedo, arrecadar a medalha e ir para casa para a pendurar na parede ao lado do diploma da mãe perfeita.
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