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Ser super mãe é uma treta

Ser super mãe é uma treta

21
Jun18

A maternidade e um dos seus maiores flagelos

Susana

Um dos grandes flagelos da maternidade são as comparações. Todas o fazemos. As mães, em algum momento, já compararam os filhos com os filhos das amigas, com os filhos das desconhecidas e até entre irmãos. Eu já o fiz e enchi-me de bofetadas.

 

O meu filho começou a falar tarde, seja isso o que for, ao contrário da irmã que começou cedo a ser uma tagarela, ele dizia poucas palavras, as que dizia era mal pronunciadas e não fazia frases simples como “Eu quero água.” Quando dei por mim estava a verbalizar que a irmã com a mesma idade já falava muito mais, já construía frases e já espetava o dedo para ralhar comigo e com o pai. Porque é que o miúdo não fala?

 

Pausa para uma bofetada. 

 

Respirei fundo. Olhei para um miúdo que compreendia tudo o que lhe era dito e voltei calmamente ao meu mantra de que cada criança tem o seu ritmo. Para tudo. Para começar a gatinhar, para começar a andar, para falar, para deixar as fraldas. Porra, até eu que dizia que o meu filho ia usar fraldas até à faculdade sei que isso não ia acontecer, no máximo usaria fraldas até ao secundário. 

 

As comparações são normais, a competição entre mães é que já não é normal e sinal de uma patologia grave. Pouco importa se os miúdos começaram a andar com doze ou com dezoito meses, esta merda não é uma corrida de bebés para ver quem chega em primeiro. Os meus filhos começaram os dois a andar tarde, que é como quem diz depois dos doze meses, ela aos quinze e ele aos dezassete, ambos tinham um perfeito gatinhar de rabo que nos fazia rir à gargalhada e uma preguiça monumental para se meterem de pé e são incontáveis as vezes que me perguntaram:

 

- Então, já anda?

 

Foda-se, sim, já anda ao colo, respondi eu milhares de vezes. O que raio importa? Hoje os dois andam, correm, saltam. O que interessa a esta distância com que meses começaram a andar? Os miúdos que começam a andar cedo andam melhor? Não, porra, todos andam, ponto. Nós fodemos a cabeça uns aos outros com merdas que não lembram a ninguém.

 

E os dentes? Com que idade nasceu o primeiro dente dos meus filhos? Não sei, juro. Acho que a minha filha teve o primeiro dente aos sete meses e o meu filho não faço ideia, sim, eu sou essa mãe que não aponta nada, não tem um diário dos miúdos, nem o raio que o valha, mas estou a olhar para os dois agora e a ver duas bocas cheias de dentes. No final é o que importa certo?  Já perceberam o que eu quero dizer. Comparamos, competimos, lixamos a cabeça uns aos outros, quando os miúdos estão no ritmo deles, bem se cagando para as nossas questões menores. Os miúdos não querem saber com quantos meses lhes nasceu o primeiro dente, eles vão mastigar tão bem como os outros e morder os outros miúdos quando for caso disso, nem eles querem saber, nem ninguém quer saber, na verdade, ninguém quer saber por saber.

 

Só vocês e o pai e os avós e os tios e os primos, na melhor das hipóteses, todos os outros, as amigas, as colegas de trabalho, as vizinhas, aquela mãe no centro de saúde, só querem saber para verem se os filhos deles estão em primeiro lugar no pódio do concurso do bebé a quem nasceu os dentes mais cedo, arrecadar a medalha e ir para casa para a pendurar na parede ao lado do diploma da mãe perfeita.

 

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19
Jun18

O coração da mãe

Susana

O coração da mãe é o músculo mais resistente. O coração da mãe alarga, filho a filho, para deixar entrar cada vez mais amor. O coração da mãe parte-se e cola-se à velocidade das tristezas e alegrias dos filhos. O coração da mãe mirra como uma passa quando se enche de preocupações. O coração da mãe fica em fanicos quando os filhos lhes esgotam a paciência. O coração da mãe cavalga torto quando o cansaço fala mais alto. O coração da mãe palpita de emoção, cora quando sofre por antecipação, zanga-se quando não o deixam descansar e acelera quando o instinto lhe diz o caminho. O coração da mãe é o músculo mais resistente, forte, combativo, vermelho sangue, bate por ela e pelos filhos, bate dentro do peito, fora do peito, bate na boca e em todos os lugares comuns. O coração da mãe chora baixinho, ri-se baixinho. O coração da mãe, não há outro igual.

 

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06
Jun18

Podem chamar-me princesa que eu deixo

Susana

Olho para a polémica em torno do anúncio da DGS de que as princesas não fumam e não sei se ria ou se chore, por um lado dá-me vontade de rir que uma mulher se incomode ou que se sinta diminuída por lhe chamarem princesa, é quase o mesmo que dizer que é menos respeitável por usar minissaia ou pintar os lábios com bâton vermelho, por outro dá-me vontade de chorar por não ver as mesmas mulheres se indignarem com questões realmente discriminatórias.

 

Pensem comigo, ganhamos menos que os homens, não progredimos na carreira de igual forma, somos discriminadas quando somos mães, gastamos mais horas que os homens nas tarefas domésticas e a cuidar dos filhos, os números da violência doméstica mostram-nos uma guerra civil, somos discriminadas nos cuidados de saúde, pensem em como a nossa dor é encarada em comparação à dor dos homens, somos vítimas de assédio sexual e moral no local de trabalho e a indignação passa por um anúncio, que por sinal se dirige a um grupo onde o consumo de tabaco continua a aumentar, porque se atreve a chamar a uma criança de princesa?

 

Como se uma mulher seja hoje condicionada por ter sido chamada de princesa, ter vestido saias, brincado com loiças, bonecas, usado folhos, laços no cabelo, por gostar de cor-de-rosa, dos saltos altos da mãe ou de brincos e maquilhagem. Que canseira.

 

Existem várias coisas que nos são mostradas neste anúncio, umas bem e outras não tão bem conseguidas: é um anúncio feito para mulheres, sobre a nossa saúde e não sobre pensos higiénicos, pensaram em nós para variar, as mulheres fumadoras continuam a aumentar e é preciso falar sobre isso, fumar em frente aos filhos é um mau exemplo e para explicar isso o pai também podia estar a fumar e explora a culpa materna e as mães são peritas em sentir culpa, não precisavam desta ajuda extra, mas se os meios justificarem os fins, por mim é passar o anúncio a toda a hora e falar sobre o assunto que realmente interessa: o tabagismo.

 

Mas, escolheu-se olhar para este anúncio e discutir questões de linguagem, optou-se pelo politicamente correto e pelo policiamento do que pode ou não ser dito, do que discrimina ou não uma mulher, pela indignação capaz de lápis azul na mão e pela queixa à CIG, que obviamente não deve ter mais nada que fazer e não se falou de saúde ou de tabagismo. Optou-se por ridicularizar o feminismo e tanto que é necessário um feminismo a sério na nossa vida.

 

Quanto a mim, podem chamar-me princesa que eu deixo, continuem a preocupar-se com a minha saúde e já agora façam com que me paguem um ordenado equivalente ao dos homens.

 

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05
Jun18

Estou farta de cocó na fralda!

Susana

Vou escrever sobre cocó, quem não aguentar o cheiro é melhor voltar mais tarde, não demora muito.

 

Agora nós, digam a verdade, a nossa vida não seria mais fácil se os miúdos viessem com o programa de desfralde incluído? Temos tanta coisa com que lidar, birras, viroses, respostas tortas, crises existenciais, noites sem dormir, paciência rebentada e ainda temos que limpar xixi e cocó do chão enquanto não aprendem a ir à sanita. O mundo não é justo para as mães.

 

Quando o meu filho nasceu a minha filha tinha dois anos e dois meses, eu estava de licença de maternidade e o que havia de melhor para fazer com um recém-nascido nos braços do que tirar as fraldas à miúda? Imensa coisa que não envolvia uma esfregona, mas felizmente, tirando uns xixis e cocós no chão precisamente quando eu estava a amamentar, a coisa deu-se e numa semana a miúda já não usava fraldas durante o dia e passado um mês de fralda seca à noite deixou as fraldas de vez.

 

Demorou apenas uma semana, apesar de a meio da semana eu pensar que ia ficar maluca, na escola não fazia xixi nas cuecas e em casa até fazia cocó no chão. Nenhuma recompensa resultava, nem autocolantes, nem cuecas bonitas, nem palmas, nem abraços, nem o “viva és a maior", a coisa só se deu quando após cada cocó na sanita eu a deixava fazer um desenho nos azulejos da casa de banho. Não sei como me lembrei disto, mas resultou e antes limpar azulejos que cocó.

 

O meu filho já fez os três anos e eu já fiz três tentativas de lhe tirar as fraldas, mas o raio do miúdo não está a colaborar. Nem em casa, nem na escola, o que me faz sentir um pouco menos naba do desfralde. Não pede para ir à sanita, se perguntamos se quer ir diz que não, vai para um canto quando quer fazer cocó em paz, não diz quando tem a fralda suja, chega a dizer que não tem cocó quando o cheiro nos diz claramente que tem e detesta mudar a fralda, esperneia, vira-se, chora, parece que lhe estamos a tirar o bem mais precioso.

 

Estou tão farta de cocó na fralda, que tentei dar uma de parentalidade positiva aplicada ao cocó e conversei com ele, mostrei os benefícios de deixar as fraldas, dei o exemplo da irmã, comprei cuecas da Patrulha Pata e quando tudo falhou tentei suborná-lo com uma bicicleta e a verdade é que continuo a mudar fraldas cheias de cocó mal cheiroso.

 

Pausa para choramingar.

 

Esta conversa toda porque vamos dar início à quarta tentativa de desfraldada - quarta tentativa - e eu acendi uma vela aos deuses da paciência que eu já estou por tudo, até deixá-lo usar fraldas até à faculdade.

 

Desejem-me sorte e assim.

 

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