Dedicado às mães que estão de licença de maternidade
Há três anos estava de licença de maternidade do meu filho mais novo e como todas as mães que estão de licença de maternidade acordava com o sol a entrar pela janela, os passarinhos a chilrear lá fora e os sorrisos doces de um bebé pequenino. Dava-lhe de mamar, mudava-lhe a fralda, o bebé arrotava e voltava a dormir e eu aproveitava para tomar banho, lavar os dentes, passar um creme na cara e no corpo. Sentava-me à mesa posta com uma toalha imaculadamente branca, bebia um sumo com laranjas acabadas de espremer, enquanto me deliciava com uma fatia de bolo que tinha feito no dia anterior. Levantava a mesa, lavava a loiça, o bebé acordava, voltava a dar-lhe de mamar, mudava-lhe a fralda, dava-lhe banho e íamos dar um passeio pelas ruas da cidade. De tarde, o bebé dormia longas sestas e eu aproveitava para dormitar no sofá, ler um livro ou ver a minha série preferida na televisão. O bebé acordava, mamava e ficávamos como dois apaixonados a babar um pelo outro e a jurar amor eterno. À hora que o pai chegava a casa o jantar já estava feito, a mesa posta, havia pão fresco e uma variedade incrível de fruta comprada no mercado.
Só que não.
Há três anos estava de licença de maternidade do meu filho mais novo e as noites eram passadas a dar mama de duas em duas horas, acordava enremelada e a amaldiçoar a sorte dos homens em não amamentarem, lavava a cara a correr, enquanto o miúdo gritava que queria mamar e que tinha a fralda suja, metia a mama de fora, foda-se, estamos sempre com a mama de fora, mudava-lhe a fralda, fazia um esforço hercúleo para o adormecer, o raio do miúdo nunca gostou de dormir, bebia um café a correr e comia uma torrada com pão do dia anterior, despachava a mais velha entre birras e questões existenciais, ia levá-la à escola, passava no supermercado bem a tempo do miúdo acordar impaciente para mamar, chegava a casa, dava-lhe de mamar, mudava-lhe a fralda, mais uma maratona para o adormecer, arrumava as compras, fazia as camas, lavava a loiça do pequeno-almoço, metia roupa a lavar, o miúdo acordava, dava-lhe banho, de mamar, mudava-lhe a fralda outra vez, aproveitava que o miúdo estava acordado para aspirar e lavar o chão, fingia que almoçava qualquer coisa quase sempre pouco saudável, voltava a dar-lhe de mamar e a mudar-lhe a fralda, o miúdo adormecia desta vez sem esforço, eu estendia a roupa que estava à minha espera na máquina, metia mais roupa a lavar, tirava alguma coisa do congelador para o jantar, lembrava-me que ainda não tinha lavado os dentes, o miúdo acordava, voltava a dar-lhe de mamar e a mudar-lhe as fraldas mais cagadas que já vi na vida e quando dava por isso já era horas de ir buscar a mais velha à escola e eu ainda não tinha tomado banho, voltava para casa com os dois quando o mais novo já queria mamar outra vez, dava-lhe mama, mudava-lhe a fralda, metia-o na espreguiçadeira e aproveitava para dar banho à mais velha, sentava-me cinco segundos com eles no chão a brincar até me lembrar que ainda não tinha começado a fazer o jantar, que não tinha comprado fruta e que o pão não chegava para o pequeno-almoço do dia seguinte, o pai chegava, o jantar ainda estava a meio, a mesa não estava posta e eu gritava foda-se vou finalmente tomar banho!
Estar de licença de maternidade é passar o dia com a mama de fora, a mudar fraldas, a desejar que os miúdos durmam para estendermos roupa e que acordem para aspirarmos o chão, é lavarmos os dentes a meio da tarde e tomarmos banho quando o pai chega a casa. Quando alguém vos disser para aproveitarem a de licença de maternidade para descansar sintam-se à vontade para mandar essa pessoa à merda.
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